A partir desta segunda-feira (30/09) toda aplicação de soro para tratar acidentados em Vila Velha com animais peçonhentos será concentrado no Pronto Atendimento de Cobilândia, o que vai tornar o serviço mais prático e rápido. Até então, esses casos eram encaminhados para o hospital Jaime Santos Neves, na Serra, o que provocava demora e transtorno no deslocamento dos acidentados no município de Vila Velha.
Profissionais de saúde do PA de Cobilândia foram capacitados por técnicos do Toxcen (Centro de Atendimento Toxicológico do Espírito Santo) a fim de atender os acidentes domésticos e da zona rural com animais peçonhentos.
Animais peçonhentos são aqueles que, por meio de um mecanismo de caça e defesa, têm a capacidade de injetar em suas presas uma substância tóxica produzida em seus corpos, diretamente de glândulas especializadas por onde passa o veneno (dente, ferrão, aguilhão). Cobras, aranhas, escorpiões, lacraias, taturanas, vespas, formigas, abelhas e marimbondos são exemplos de animais peçonhentos. Esses animais agem por instinto de sobrevivência. Eles imobilizam o agressor e fogem para um local seguro quando se sentem ameaçados.
Em 2012, Vila Velha registrou 17 casos de acidentes com animais peçonhentos. Este ano, até o mês de maio, foram contabilizados 10 acidentes, sendo que três por escorpiões, dois por aranhas e cinco por animal ignorado (o acidentado sabe que foi picado, mas desconhece o tipo de animal).
Soro antitetânico
Outro soro que também só estava disponível no hospital Jaime dos Santos Neves e agora também estará no PA de Cobilândia é o soro antitetânico. É indicado para a prevenção e o tratamento do tétano. A sua indicação depende do tipo e das condições do ferimento, bem como das informações relativas ao uso do próprio soro e do número de doses da vacina contra o tétano recebido anteriormente.
O tétano é uma doença infecciosa, não contagiosa. Ela provoca espasmos dolorosos, rigidez dos músculos e distúrbios neurológicos. É causada pela neurotoxina tetanospasmina, que é produzida pela bactéria gram-positiva e anaeróbica Clostridium tetani.
A doença se manifesta pela introdução dos esporos da bactéria em ferimentos externos, geralmente perfurantes, contaminados com terra, poeira, fezes de animais ou humanas. O tétano está popularmente associado a objetos de metal enferrujado, mas o esporo do bacilo tetânico está em todo lugar e pode ser encontrado na terra, em plantas, em vidro, em madeira e em outros objetos, entrando no organismo por perfuração ou corte.
Primeiros socorros em acidentes com animais peçonhentos:
O QUE FAZER?
-Levar a pessoa acidentada imediatamente para o pronto-socorro mais próximo ou ligar para o serviço de emergência
-Não fazer sucção do veneno
-Não espremer o local da picada
-Não dar nada alcoólico, querosene ou fumo para o acidentado
-Não fazer torniquete, impedindo a circulação do sangue: isso pode causar gangrena ou necrose local
-Não cortar ou queimar o local da ferida
-Não fazer aplicação de folhas, pó de café ou terra sobre a ferida, sob o risco de infecção
-Manter a pessoa em repouso, evitando seu movimento para que não favoreça a absorção do veneno
-Manter, se possível, a região picada erguida
-Localizar a marca da picada e limpar o local com água e sabão ou soro fisiológico
- Cobrir o local com um pano limpo
-Remover anéis, pulseiras e outros objetos que possam prender a circulação sanguínea, em caso de inchaço do membro afetado
-Tentar identificar que tipo de animal atacou a vítima, observando cor, tamanho e características dele
-Se possível, levar o animal causador do acidente para identificação
-No caso de acidentes causados por escorpiões, aranha-armadeira e viúva-negra, recomenda-se fazer compressas mornas no local e analgésicos para alívio da dor
TIPOS DE ACIDENTES E SINTOMAS COM ANIMAIS PEÇONHENTOS
Acidentes por cobra
Serpentes do grupo das jararacas (Acidente botrópico ): dor e inchaço no local da picada, às vezes com manchas arroxeadas e sangramento pelos orificios da picada; sangramentos em gengivas, pele e urina. Pode evoluir com complicações como infecção e necrose na região da picada e insuficiência renal.
surucucu (Acidente laquético ): quadro semelhante ao acidente botrópico, acompanhado de vômitos, diarréia e queda da pressão arterial.
Cascavel (Acidente crotálico ): no local sensação de formigamento, sem lesão evidente; dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, visão turva ou dupla, dores musculares generalizadas e urina escura.
Coral verdadeira(Acidente elapídico): no local da picada não se observa alteração importante; as manifestações do envenenamento caracterizam-se por visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento.
Convém lembrar que serpentes não peçonhentas também podem causar acidentes e que nem sempre as serpentes peçonhentas conseguem inocular veneno por ocasião do acidente.
Como identificar as cobras venenosas
As cobras são répteis vertebrados de corpo alongado coberto por escamas. As espécies venenosas possuem glândulas na cabeça e na boca capazes de produzir substâncias tóxicas. Quando assustadas, as cobras tomam atitudes diversas. Em geral, as venenosas ficam enrodilhadas, prontas para o bote, e se afastam lentamente. Algumas não venenosas são extremamente rápidas, dando vários botes na pessoa e se afastam velozmente. Outras, além de morder, abocanham o local e dificilmente soltam, sendo necessário abrir a boca do animal e afastar os maxilares do local mordido para evitar dilaceração.
Outras maneiras de diferenciá-las:
Venenosas: Cabeça chata, triangular, bem destacada e com escamas pequenas, semelhantes às do corpo. Olhos pequenos e pupila em fenda vertical. Escamas alongadas, pontudas, dando-nos a impressão de aspereza quando tocadas. Cauda curta e bruscamente afinada. Uma exceção a esta regra é a Jiboia, pois apesar de possuir algumas características de uma cobra peçonhenta, esta não possui veneno.
Não venenosas: Cabeça estreita, alongada, mal destacada e com placas no lugar de escamas. Olhos grandes e pupila circular. Escamas achatadas, dando impressão de lisas e escorregadias quando tocadas. Cauda longa e gradualmente afinada. Aqui a exceção fica por conta da cobra Coral que, apesar de ter características de uma cobra não peçonhenta, é venenosa.
Espécies de cobras venenosas:
Cascavel, Boicininga ou Maracamboia: É encontrada em todo o Brasil, exceto na Floresta Amazônica. Possui chocalho na cauda. Causam o envenenamento chamado crotálico. Vivem em áreas abertas, quentes e secas.
Jararaca, Caiçara, Jararacuçu, Urutu, Patrona, Malha de Sapo ou Cotiara: Encontrada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, leste do Mato Grosso, sul da Bahia e algumas áreas de Minas Gerais. Algumas alcançam mais de um metro de comprimento. Causam o envenenamento chamado botrópico. Vivem em locais úmidos.
Surucucu, Jaca ou Surucutinga: Encontrada nas florestas litorâneas do Rio de Janeiro e vale amazônico. Seu comprimento pode alcançar mais de 4 metros, tornando-se a maior serpente peçonhenta da América. Causa o envenenamento chamado laquético.
Coral verdadeira ou Ibiboboca: Encontrada em todo o Brasil. Coloração formada por anéis vermelhos, pretos, brancos ou amarelados. Pouco se diferencia da falsa coral, sendo recomendável que pessoas sem conhecimentos específicos não tentem identificá-las. Causam o envenenamento chamado elapídico. Vivem sob folhas, troncos ou galerias no solo.
Acidentes por escorpião
Os escorpiões de importância médica estão distribuídos em todo o país, causam dor no local da picada, com boa evolução na maioria dos casos, porém crianças podem apresentar manifestações graves decorrentes do envenenamento.
Em caso de acidente, recomenda-se fazer compressas mornas e analgésicos para alívio da dor até chegar a um serviço de saúde para as medidas necessárias e avaliar a necessidade ou não de soro.
Acidentes por aranhas
São três os gêneros de aranhas de importância médica no Brasil:
Loxosceles ("aranha-marrom"): é importante causa de acidentes na região Sul. A aranha provoca acidentes quando comprimida; deste modo, é comum o acidente ocorrer enquanto o individuo está dormindo ou se vestindo, sendo o tronco, abdome, coxa e braço os locais de picada mais comuns.
Phoneutria ("armadeira", "aranha-da-banana", "aranha-macaca"): a maioria dos acidentes é registrada na região Sudeste, principalmente nos meses de abril e maio. É bastante comum o acidente ocorrer no momento em que o indivíduo vai calçar o sapato ou a bota.
Latrodectus ("viúva-negra"): encontradas predominantemente no litoral nordestino, causam acidentes leves e moderados com dor local acompanhada de contrações musculares, agitação e sudorese.
As aranhas caranguejeiras e as tarântulas, apesar de muito comuns, não causam envenenamento. As que fazem teia áreas geométricas, muitas encontradas dentro das casas, também não oferecem perigo.
Acidentes por taturanas ou lagartas
As taturanas ou lagartas que podem causar acidentes são formas larvais de mariposas que possuem cerdas pontiagudas contendo as glândulas do veneno. É comum o acidente ocorrer quando a pessoa encosta a mão nas árvores onde habitam as lagartas.
O acidente é relativamente benigno na grande maioria dos casos. O contato leva a dor em queimação local, com inchaço e vermelhidão discretos. Somente o gênero Lonomia pode causar envenenamento com hemorragias à distância e complicações como insuficiência renal.
Soros
Os soros antipeçonhentos são produzidos no Brasil pelo Instituto Butantan (São Paulo),Fundação Ezequiel Dias (Minas Gerais) e Instituto Vital Brazil (Rio de Janeiro). Toda a produção é comprada pelo Ministério da Saúde que distribui para todo o país, por meio das Secretarias de Estado de Saúde. Assim, o soro está disponível em serviços de saúde e é oferecido gratuitamente aos acidentados.
ACIDENTES COM MATERIAL CORTANTE (PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO TÉTANO)
Todos os ferimentos sujos, fraturas expostas, mordidas de animais e queimaduras devem ser bem limpos com substâncias oxidantes ou antissépticas (como álcool) e tratados para evitar a proliferação de bactérias nocivas no organismo, não só de tétano. O ferimento deve ser coberto com uma gaze ou algodão limpos para evitar novas contaminações.
O tétano pode ser evitado:
- Vacinando crianças e reforçando a vacina a cada 10 anos
- Usando soro antitetânico antes das intervenções cirúrgicas ou depois de ferimentos que possam facilitar a infecção
- Evitando o contato das feridas profundas com terra ou qualquer sujeira
- Cuidando da assepsia do instrumento cirúrgico e da antissepsia das feridas
- Eliminando os objetos pontiagudos que possam causar ferimentos acidentais
- Quando alguém se fere profundamente e não faz a higiene necessária, os médicos solicitam a aplicação do soro antitetânico, para que o tétano não se desenvolva. Esse cuidado é muito importante, porque a toxina tetânica tem afinidade pelo sistema nervoso e pode levar a pessoa à morte.
Fonte: PMVV, em 27/09/2013.
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